O IRC é um sistema on-line de troca de mensagens textuais, pelo qual vários usuários podem conversar ao mesmo tempo. Nasceu em 1988, na Finlândia, e foi muito utilizado pelo meio acadêmico para comunicação entre pesquisadores e estudantes. Seu primeiro momento de fama internacional foi em 1991, durante a Guerra do Golfo Pérsico, quando pessoas de todo o mundo se reuniram em um canal para ler os últimos relatos e trocar informações. Teve o mesmo uso durante o golpe contra Boris Yeltsin, em 1993, e em outras datas especiais como grandes terremotos e Copas do Mundo.
Conheci a Internet em 1995, com acesso via RENPAC. Naquela época não existia Google e a principal forma de navegação era feita por documentos indexados em Gopher. A ferramenta de busca chamava-se Veronica (Very Easy Rodent-Oriented Net-wide Index to Computerized Archives).
Outro recurso muito utilizado naquela época eram as BBS (Bulletin Board System) e foi justamente por meio de uma, a jacare.ufpa.br, que conheci o IRC. Nela, havia uma porta de acesso ao canal #brasil que ficava na EFNET. Na primeira vez foi difícil acreditar que cada nick ali conversando era uma pessoa e que elas estavam nos mais diversos lugares do mundo. Conheci pessoas incríveis e ainda hoje tenho contato com várias delas.
Em 1996, teve início a era comercial da Internet no Brasil. Muitos provedores nasceram e a maioria apoiou o nascimento do IRC cedendo máquinas onde os servidores rodavam. Lembro que a primeira rede foi criada e organizada pelo Jan (kanopus) e pelo XShadow. Participei desta rede no início e logo percebi que os poderes ilimitados que os ircadmins e os ircops possuíam eram constantemente usados de forma abusiva. Tal comportamento afugentaria os usuários comuns e impediria o crescimento maduro do IRC. Como não consegui mudar esta mentalidade, saí e criei a BrasNET.
Com apenas dois servidores (americasnet e tvfilme) e um grupo de amigos, que ainda hoje são amigos, a BrasNET foi criada com o objetivo de manter um ambiente saudável de bate-papo, entre brasileiros, com qualidade e onde não houvesse abusos por parte dos que cuidavam da rede e seus servidores. Vários provedores aprovaram esta proposta se associando à nossa rede e a quantidade de usuários foi crescendo de forma exponencial. Conhecidos que estavam distantes se comunicavam de forma fácil, assim como amizades e famílias foram formadas entre pessoas que nunca se conheceriam se não fosse pela BrasNET.
Durante os anos, tal crescimento trouxe felicidade e satisfação tanto para os que cuidavam dos recursos quanto para os usuários que se beneficiavam destes. O ponto máximo da rede se deu em 2003, quando mais de 60 mil pessoas conversavam simultâneamente na estrutura mantida por parceiros como Telemar, BrasilTelecom, Unisys, Interdotnet, Mandic e outros grandes provedores brasileiros de abrangência regional. Presenciei e combati diversos tipos de crimes via internet visando manter um ambiente saudável. Com sucesso, chegamos a ser a oitava maior rede IRC do mundo, sendo a maior ligada a um país e língua.
Tamanho sucesso gerou inveja e frustração em algumas pessoas que resolveram promover ataques à rede e seus parceiros. Os técnicos de segurança das empresas parceiras nunca trabalharam tanto para garantir a continuidade dos serviços e bloquear tais ataques. Infelizmente os ataques eram fortes o suficiente para derrubar provedores e regiões inteiras, o que as levou a desistir de apoiar o IRC brasileiro. Atitude justa e esperada, pois tais ataques prejudicavam os demais serviços dos provedores.
Para manter o IRC funcionando a solução foi contratar servidores no exterior que tivessem capacidade de bloquear os ataques. Com isso o IRC brasileiro passou a ser hospedado exclusivamente no exterior.
Nessa época, além dos problemas dos ataques, tivemos o surgimento do Orkut e a ampliação do MSN mantidos pelos gigantes da Internet no mundo, Google e Microsoft. Como o IRC é mantido por pessoas comuns, é fácil causar instabilidade nele. Tal instabilidade fez com que as pessoas fossem desistindo do IRC. De outro lado, a nova geração já vem nascendo plugada ao MSN e ao Orkut.
Mesmo com a queda na quantidade de usuários e com os ataques que levaram à desistência dos parceiros brasileiros, continuei mantendo a rede com os mesmos objetivos que me levaram a criá-la. Infelizmente aquelas pessoas que atacavam os parceiros brasileiros no início dos anos 2000 também não desistiram de atacar o IRC brasileiro. Atualmente esses ataques estão tão fortes que nem mesmo os datacenters americanos especializados conseguem bloqueá-los eficientemente.
Ficamos, então, em um beco sem saída. Não é mais possível manter o IRC brasileiro nem no Brasil nem no exterior. Pode até surgir um datacenter capaz de resistir aos ataques de hoje. Mas e os que virão amanhã? É muito desgaste para pouco benefício. Dessa forma a BrasNET continuará existindo com seus direcionamentos de e-mails, urls e jabber, porém não vale mais a pena trabalhar com IRC. De qualquer forma estou satisfeito com esses 11 anos de trabalho e agradeço a todos os usuários, parceiros e colaboradores que contribuíram de alguma forma para o sucesso desta empreitada.
Quem quiser deixar depoimentos, contar histórias e casos que aconteceram nesses 11 anos, é só enviar para meu email que publicarei aqui no site.
Abraços a todos,
Mauritz.
Perguntas frequentes
P: Não haverá mais nenhuma novidade na BrasNET a partir de agora?
R: Não sei. Havendo programador e designer interessados, poderemos desenvolver alguns dos projetos WEB que estão parados.
P: E os colaboradores que possuem créditos não utilizados?
R: Assim que a turbulência passar, irei apresentar formas para uso e devolução dos créditos disponíveis.
P: E o irc.brasnet.org apontado pra EFNET?
R: Nada mais lógico que o IRC brasileiro morrer onde nasceu.
P: É sua decisão final? Não aceita propostas?
R: Sim, mas propostas podem ser enviadas para meu email.